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Eixo Água do Miradas de Afeto valorizou relação de comunidades com Rio das Velhas


A preocupação com a educação ambiental, com a preservação das riquezas naturais, e o modo como nos apropriamos delas sempre esteve no radar do Miradas de Afeto, que organizou, através do eixo Água, uma expedição que navegou pelas águas do Rio das Velhas em quatro comunidades: Raposos, Sabará, São Bartolomeu e Santo Antônio, entre os meses de maio e junho.


De acordo com dados do projeto Manuelzão, parceiro do Miradas neste eixo, o Rio das Velhas é o maior afluente em extensão da bacia do Rio São Francisco, com 761 Km. Sua área de mais de 29 mil km2 abrange 51 municípios e cerca de 5 milhões de habitantes. O Rio das Velhas é essencial para o abastecimento de água da região metropolitana de Belo Horizonte e dos demais municípios que integram a Bacia.


O que percebemos na nossa caminhada é que as águas do rio refletem a trajetória de cada comunidade: suas histórias, culturas, formas de ocupação e desenvolvimento socioeconômico. Por isso, na nossa passagem pelas comunidades, procuramos recontar suas histórias em muros, fachadas e paredes.


Raposos



O mural produzido no centro da cidade descreveu as manifestações e as tradições culturais construídas ao longo dos séculos e os ciclos econômicos que influenciaram decisivamente no desenvolvimento regional. Raposos tem a primeira indústria aurífera do planeta. Originalmente ocupado pelos índios Goitacazes, o território foi sendo ocupado, primeiro pelos bandeirantes, depois por tropeiros. Por ali se estabeleceram fazendeiros, garimpeiros e seus escravos, que nos deixaram como legado, entre outras riquezas culturais, o Congado.


Nas margens do Rio das Velhas, lavadeiras de roupas enfrentavam duras jornadas de trabalho, embaladas por animadas conversas e cantigas. Depois, partiam de trem rumo a Belo Horizonte para entregar roupas, fronhas e lençóis. Muitas delas se reconheceram no mural pintado por Anna Gobbel. “Foi gratificante ver a história das pessoas reaparecendo nas esquinas das cidades. Ajudar a revitalizar nascentes e reestabelecer cursos perdidos são, também, nosso papel”, contou a artista e educadora social.


Sabará



Em Sabará, a atividade foi na Praça Geraldo Costa Guimarães, às margens da BR 381, na divisa com Belo Horizonte. Um cenário emblemático, no qual convivem a rodovia, a transição da paisagem urbana para a rural, novos condomínios e empresas. Perto de tudo isso, um Rio das Velhas castigado. O grande muro da praça ganhou um colorido que contrastou com o cinza do asfalto e da fumaça, e transmitiu o alerta do projeto sobre a degradação ambiental do Rio naquele local.


Mas também há esperança. Conhecemos o trabalho de João Luciano, voluntário do programa “Amigos do Rio”, do Manuelzão, que há anos é responsável por zelar o trecho do Rio das Velhas que passa por Sabará. Ele também cuida de outro patrimônio, a Folia de Reis, que por aqui tem mais de 250 anos.


Também fomos apresentados a 15 famílias ribeirinhas, que cultivam uma pequena horta, mostrando que é possível e necessário a implantação de políticas públicas de ocupação da Bacia das Velhas que respeitem as comunidades do entorno e do meio ambiente. Este ciclo de sustentabilidade e cidadania estampou nosso mural, que foi arrematado pelo experiente professor e artista plástico local, Humberto Guimarães, que atendeu ao nosso convite para participar da atividade.


São Bartolomeu e Santo Antônio do Leite



Por fim, mergulhamos na nascente do Rio das Velhas, aqui nos distritos de São Bartolomeu e Santo Antônio do Leite, na região de Ouro Preto. Foram três dias de muito aprendizado, e mais uma oportunidade para contribuir com o renascer dos patrimônios que nos cercam. Reafirmamos a importância das águas cristalinas e das matas da região, que juntas formam o pulmão que nos fornece o ar.


Foi assim na escola municipal Washington Araújo Dias, que fica às margens do Rio das Velhas, ainda límpido neste ponto, graças à pressão da comunidade. O muro da escola ganhou o colorido da Festa do Divino, da Igreja Nossa Senhora do Carmo, da doceira das iguarias locais e do Boi da Mata, tradição recentemente resgatada pela comunidade.


Em Santo Antônio do Leite, conhecemos e entendemos a importância da secular escola municipal Dr. Pedrosa, que desde 1909 atende a toda região. Erguida pela comunidade com apoio de doadores, a escola estampou, em seu muro, toda a diversidade das manifestações culturais e religiosas da população, e o clamor pela preservação dos rios da região.


Ao fim de mais esta jornada, acreditamos que o Miradas de Afeto cumpriu sua missão de dialogar com as comunidades envolvidas. Reforçamos a necessidade de preservação de nossas origens e de resguardar nosso futuro, nesta terra em que nascentes humanas e materiais precisam se reinventar constantemente para sobreviver.

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