top of page

Etapa Ar do Miradas de Afeto estampou formas de brincar e valorizou organização comunitária


Compreender como comunidades de origens e realidades tão distintas se articulam para lidar com o brincar foi um dos grandes desafios da etapa Ar do Miradas de Afeto, que desenvolveu atividades no Bairro Boa Vista, em Nova Lima; em Maquiné, distrito de Sabará; e no Morro das Pedras, em Belo Horizonte. Durante a passagem do projeto, ficou muito claro que a ludicidade não é um privilégio, e a promoção do bem-estar destas populações é fruto do esforço diário de organizações e lideranças.

Através dos nossos encontros, pudemos dar forma às histórias e as experiências coletivas, estampando novos coloridos e sentidos às identidades locais. A etapa contou com o apoio da Carretel Cultural, empresa que desenvolve, ao longo dos últimos 20 anos práticas, reflexões e registros acerca do brincar como traço elementar da cultura e identidade de um povo, e sobre a importância do brincar para a plenitude do desenvolvimento humano.



Nova Lima


As atividades e os espaços de lazer fazem parte da história do Bairro Boa Vista, o mais antigo de Nova Lima. A região foi ocupada pela mineração, que durante mais de um século utilizou mão de obra escrava. Nas primeiras décadas do século 20, empresas inglesas se instalaram na região, que se urbanizou. Nesta época foram construídas pequenas casas geminadas para os trabalhadores solteiros, denominadas Bonserás. Ao lado da igreja e da Praça Expedicionário Raimundo Pereira Guimarães, as casinhas compõem uma paisagem bucólica e bem conservada.

A preservação da história e da memória é uma característica do bairro e dos seus “guardiões”. Uma delas é a associação de moradores, que luta por melhorias para a comunidade e pela preservação ambiental e da rica história do bairro. Presidida por Alan Silva, a associação é responsável pela conservação da biblioteca comunitária, cuja fachada foi completamente preenchida por cores, brincadeiras e homenagens a moradores que colaboraram com o projeto e se tornaram referência para a comunidade.

Outra história que reflete o espírito de conservação que predomina entre os moradores foi a do José Félix, que durante a pintura do muro da praça trouxe para “passear” um caminhão de madeira que ganhou do pai há 70 anos. Durante anos, o brinquedo ganhava nova pintura, pneus e outras manutenções necessárias. Uma verdadeira relíquia, que desperta a nostalgia e simboliza o valor afetivo do ato de brincar.




Maquiné

Ao contrário do Bairro Boa Vista, a ocupação de Maquiné, distrito de Ravena, em Sabará, é recente. A chegada das primeiras famílias foi em 1986. Embora o nome da comunidade tenha sido inspirado, possivelmente, no maquinismo de uma empresa exploradora de minério de ferro localizada na região, a primeira geração de moradores subsistiu através da agricultura familiar.

O processo de urbanização da vila de Maquiné mudou a configuração econômica do local. Novas famílias foram ocupando a área, e hoje cerca de 150 delas trabalham em ocupações diversas no comércio, construção civil e prestação de serviços diversos. A busca pela regularização das propriedades e pela inclusão da comunidade em programas e políticas públicas uniu os moradores e possibilitou a organização de diversas iniciativas. Entre elas, destacam-se as rodas de brincadeira, os mutirões de limpeza do Córrego Santo Antônio e a criação de uma cooperativa de reciclagem. Por isso, na nossa intervenção coletiva, fizemos questão de estampar as transformações do vilarejo, e homenagear os pioneiros e a nova geração de lutadores locais.




Morro das Pedras

Muitas das primeiras ruas, praças e casarios da então recém fundada Belo Horizonte foram construídas com o cimento extraído do Morro das Pedras, aglomerado que fica no coração da Zona Oeste da capital mineira. Por suas ruas, vielas e becos pulsa uma riqueza cultural que se traduz em manifestações na arte de rua, na música e na força de dezenas de organizações que promovem a história e a identidade do Morro.

Uma das características das organizações do Morro é a ativa participação da juventude local, estimulada a criar novos projetos e fortalecer iniciativas já enraizadas na comunidade. Guiada por este espírito, o Miradas de Afeto convidou dois representantes desta nova geração para as atividades no muro da escadaria da Graminha, Maria Flor Canuto e Raison Lucas, dois grafiteiros e arte-educadores que atuam em diversos projetos dentro do Morro.

Um deles é o Somos Comunidade, do Instituto Unimed/BH, parceiro do Miradas nesta atividade. Realizado há 15 anos, o projeto criou uma enorme sinergia entre lideranças, artistas, músicos e comerciantes do Morro, valorizando talentos, gerando renda e fortalecendo a cultura e a identidade local. Por isso, foi muito simbólico encerrar nossa caminhada no MDP, numa escadaria que também é um mirante. De lá, avistamos a esperança, a transformação e o afeto, este presente da vida que pudemos compartilhar com todas as comunidades visitadas.


39 visualizações
bottom of page